Quer possuir uma mente blindada e inabalável? Inspire-se nestes 7 campeões, listados por Gustavo Dantas

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Gustavo Dantas ao lado de seu mestre Dedé Pederneiras. Foto: Reprodução

O que exatamente representa ter uma mente blindada?

Um atleta de mente blindada é aquele ou aquela que possui um alto nível de resiliência mental, que permanece com foco e disciplina independentemente dos desafios que enfrenta. Que jamais se deixa abalar por derrotas, frustrações ou momentos de pressão, pois entende que o crescimento vem do processo.

Dito isso, quem teriam sido os melhores exemplos de uma mente forte e inabalável? Quais foram os atletas possuidores de uma mentalidade mais impressionante desde os primeiros Mundiais da IBJJF, que começaram em 1996?

A convite de GRACIEMAG, faço esta minha seleção – o que, diga-se de passagem, é uma escolha bem complicada. No futebol, por exemplo, o tempo passa e os ídolos são esquecidos. Quando você vai ficando mais velho e está falando sobre futebol com alguém mais novo, pensa: “Caramba, você nunca ouviu falar nesse jogador?”

No Jiu-Jitsu, os debates não têm sido diferentes. Resolvi, portanto, começar lá atrás, nos românticos anos 1990, com faixas-pretas que pavimentaram o caminho para chegarmos aonde estamos hoje.

Sei que artigos desse tipo geram comentários. Ao estilo: “Ué, como você não incluiu fulano ou beltrano?” Pois esta é apenas uma humilde observação de alguém que assistiu ao vivo os lutadores mencionados, foi sortudo o suficiente para treinar com alguns deles e grato por já ter entrevistado todos no podcast “Mente blindada 24/7”.

Seguem 7 craques de mente blindada, em ordem alfabética:

* Fabio Gurgel

O general da equipe Alliance, integrante do Hall da Fama da IBJJF, foi quatro vezes campeão mundial e um competidor consistente e sólido. Além de inúmeros títulos internacionais, Fabio foi um dos protagonistas de um dos eventos mais importantes da história do nosso esporte: o grande desafio Jiu-Jitsu x luta livre, no Grajaú Country Club, no Rio de Janeiro, em 1991. Fabio ali ajudou a carregar um verdadeiro piano nas costas ao representar a nação do Jiu-Jitsu, e mostrou uma calma e confiança impressionantes, apesar de muito jovem. Como se não bastasse, Gurgel, autor do livro “Inabalável”, teve uma atuação histórica no torneio de três lutas sem luvas do IVC, onde fez a final contra o até então desconhecido gigante Mark Kerr, demonstrando sua valentia ao aceitar o desafio em cima da hora, mesmo com uma absurda diferença de peso. Um sinônimo de mente blindada nos tatames.

* Murilo Bustamante

O líder da BTT, campeão mundial da IBJJF, foi um dos três protagonistas do vale-tudo de 1991 contra a luta livre, ao lado de Fabio Gurgel. O faixa-preta de Carlson Gracie esbanjou um equilíbrio emocional incrível num evento onde, se o Jiu-Jitsu tivesse perdido, a história do nosso esporte teria mudado literalmente. Apesar de já estar se dedicando mais ao vale-tudo e MMA quando os campeonatos da IBJJF estavam se desenvolvendo, ele continuou se desafiando em competições de kimono. Ao mesmo tempo, travava batalhas insanas, como no torneio de vale-tudo Mars em 1996, no qual enfrentou o gigante do wrestling Tom Erikson na final do evento, depois de duas lutas, e ainda lutou a terceira por 40 minutos mostrando uma mente blindada acima da média. No mesmo ano, seria vice-campeão do primeiro Mundial da IBJJF. Era uma época muito diferente. Mesmo assim, ainda foi campeão brasileiro absoluto e mundial em 1999. Três anos depois, tornou-se campeão do UFC, além de travar batalhas épicas no Pride japonês. Pessoalmente, posso dizer que ele é um dos meus lutadores favoritos de jiu-jitsu/MMA, sempre se portando como um samurai.

Pioneiro: Murilo Bustamante no ground and pound que lhe daria o cinturão até 84kg do UFC, em 2002. Foto: Susumu Nagao

* Robson Moura

O faixa-preta da Nova União é considerado por muitos comentaristas como um dos pesos leves mais técnicos, não somente de sua época, mas da história da IBJJF. De fato, ninguém consegue ser cinco vezes campeão mundial na faixa-preta e integrante do Hall da Fama sem uma mentalidade destemida. Sua confiança era evidente, e muitos oponentes se intimidavam e “perdiam” antes mesmo de entrar no tatame, pois sabiam que ele sempre competia com a intenção de finalizar. Confiante por cima e por baixo, ele inspirou gerações, inclusive a mim próprio, por ser parceiro de equipe e amigo pessoal. Após quatro títulos mundiais e um vice-campeonato entre 1997 e 2001, escolheu se desafiar no MMA, lutando na organização Shooto no Japão. Em 2007 voltou aos tatames da IBJJF para vencer seu quinto título mundial. Brabo demais.

* Royler Gracie

Se eu perguntar “Quem foi o seu competidor favorito?” acredito que alguns nomes virão rápido na sua cabeça, certo? No meu caso, Royler seria a minha opção, fácil. Exemplo clássico de mente blindada, com quatro títulos mundiais na faixa-preta, três títulos no ADCC, e sempre pronto a lutar pela honra ou profissionalmente, independente do peso. Sua luta emblemática contra Kazushi Sakuraba no Pride japonês mostrou ao mundo o que todos já sabíamos: dentro daquele peso-pena bate um coração gigante, com uma mente muito blindada. O mestre da Gracie Humaitá enfrentou várias gerações e derrotou grandes campeões da época, e olhe que ele já era elegível para lutar na categoria master. Um exemplo até hoje, para as gerações vindouras.

Royler durante superluta com Léo Dalla. Foto: Luca Atalla / GRACIEMAG

* Roberto “Roleta” Magalhães

Integrante do Hall da Fama, com quatro títulos mundiais na faixa-preta, fez história ao inovar nos tatames com seu “esqui-jitsu”, desenvolvendo um estilo novo na época. O campeão da Gracie Barra usava uma guarda invertida com finalizações e raspagens incríveis, que eram encaixadas do nada. Sempre com um olhar sereno, muito concentrado e blindado, o competente engenheiro venceu monstros da época. O evento mais marcante de sua carreira, pelo menos na minha percepção, foi quando ele foi graduado faixa-preta duas semanas antes do primeiro Mundial de 1996. Na hora da verdade, demonstrou uma maturidade emocional incrível para derrotar o favorito Wallid Ismail, um dos três protagonistas do vale-tudo de 1991, que, por um acaso, também tinha uma mente para lá de blindada.

* Saulo Ribeiro

Um dos maiores nomes do esporte, integrante do Hall da Fama e dono de cinco títulos mundiais, Saulo sempre exalou confiança em suas competições. Discípulo de mestre Royler, todos que conviveram ao seu redor mencionam como a mente dele era diferente. Muitos atletas perdiam antes de entrar no tatame, intimidados. Com suas quedas explosivas e um jogo de guarda eficiente, Saulo é considerado um dos maiores da história, e, com certeza, seu mental foi o diferencial em sua carreira, nos treinos diários e nos torneios.

* Vitor “Shaolin” Ribeiro

Três vezes campeão mundial e ás do vale-tudo, Shaolin é um dos melhores pesos leves da história do nosso esporte. Tive o privilégio de ser parceiro de treino e amigo pessoal dele, e posso dizer que ele sempre foi minha referência nos tatames. O que mais me inspirava nele não era sua técnica, mas sua obsessão, disciplina e determinação. No Jiu-Jitsu, ele talvez seja a pessoa com a mais mente blindada que já conheci. Um nível acima do normal em termos de confiança, o lutador Shaolin foi o resultado de muito trabalho e dedicação a longo prazo.

E você? Quem mais você colocaria nessa lista dos grandes campeões da década de 1990? Oss…

O professor e campeão de vale-tudo Vitor Shaolin em Abu Dhabi, lutando o WPJJC de 2016. Foto: Ivan Trindade/Divulgação

 

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