O que você faria se, a um mês da luta da sua vida, você sentisse uma contusão apavorante no seu joelho, a primeira lesão nessa área de sua vida, e tão forte a ponto de você ouvir um estouro no joelho, seguida de dor, muita dor?
Se você fosse Rafael dos Anjos (24v, 7d), você manteria a calma e, um mês depois, desembarcaria no Rio de Janeiro com o cinturão peso leve do UFC, um prêmio ao esforço e à persistência de um campeão que não liga para contusões, pois sua motivação era maior.
Apesar do treino debilitado neste mês antes da batalha contra Anthony Pettis, ex-campeão que não perdia no UFC desde 2011, a preparação de Rafa já estava mais do que cumprida. E não começara em março, tampouco neste ano.
Rafael dos Anjos, 30 anos, começou a ser campeão do UFC muito antes. Em 2003, também como peso leve, foi campeão mundial de Jiu-Jitsu, como faixa-roxa, após seis lutas duríssimas – a final contra Lucas Leite, hoje um competidor consagrado também, mas de kimono.
Com a mente forte de quem se acostumara a vencer, cumpriu uma estrada de 12 anos nos ringues até o amadurecimento técnico, e o cinturão.
No último dia 14 de março, Rafa atingiu o topo do mundo do MMA, no UFC 185. Mas chegou a pensar em não lutar no sábado, devido a dor.
“Quando me machuquei, não conseguia fazer nada nos treinos na primeira semana. Comecei levemente a voltar treinando boxe, mas plantado, com as pernas totalmente imóveis, só usava as mãos. Na segunda semana voltei um pouco melhor, mas nada de wrestling, nada de quedar ou tomar queda. Fiz só um pouco de Jiu-Jitsu para soltar. Não foi fácil não”, recordou, em papo com o GRACIEMAG.com.
“No dia em que machuquei passou pela minha cabeça adiar a luta, como é o normal nessa situação. Antes de decidir se cancelava ou mantinha a disputa, porém, a primeira coisa que fiz foi orar e abrir a Bíblia. Abri em Ezequiel 37, versículo 6, e Deus falou comigo. Estava escrito:
‘E porei nervos sobre vós e farei crescer carne sobre vós, e sobre vós estenderei pele, e porei em vós o espírito, e vivereis, e sabereis que eu sou o Senhor.'”
Ao interpretar com isso que a empreitada daria certo, Rafa seguiu em frente. “Na hora da luta estava com o ligamento colateral medial de um dos joelhos ferrados, mas não doeu em momento nenhum, e não incomodou em hora nenhuma da batalha. Isso sem injeção nenhuma, só oração. Lutei com muita garra e coração, e aconteceu aquilo que vocês viram aí. Graças a Deus”, agradeceu.
Rafael agora vai ficar três meses afastado do Octagon, por conta do machucado no joelho e outros tantos no rosto. Na volta, deve reencontrar um velho conhecido: ou o cowboy americano Donald Cerrone, a quem venceu em 2013, ou o russo Khabib Nurmagomedov, de quem perdeu por decisão unânime em 2014. Os dois brigam pelo posto de desafiante no UFC 187, dia 23 de maio.
Seja quem for, Rafael será a partir de agora um lutador diferente. Ainda mais confiante em sua tática de não dar espaços e sufocar os rivais. E com o joelho capaz de sustentar um belo cinturão pelo qual lutou a vida toda.
UFC 185
Dallas, Texas
14 de março de 2015
Rafael dos Anjos venceu Anthony Pettis na decisão unânime dos jurados
Joanna Jedrzejczyk venceu Carla Esparza por nocaute técnico aos 4min17s do R2
Johny Hendricks venceu Matt Brown na decisão unânime dos jurados
Alistair Overeem venceu Roy Nelson na decisão unânime dos jurados
Henry Cejudo venceu Chris Cariaso na decisão unânime dos jurados
Card preliminar
Ross Pearson nocauteou Sam Stout a 1min33s do R2
Elias Theodorou venceu Roger Narvaez por nocaute técnico aos 4min07s do R2
Beneil Dariush finalizou Daron Cruickshank no mata-leão aos 2min48s do R2
Jared Rosholt venceu Josh Copeland por nocute técnico aos 3min12s do R3
Ryan Benoit venceu Sergio Pettis por nocaute técnico a 1min34s do R1
Joseph Duffy venceu Jake Lindsey por nocaute técnico a 1min47s do R1
Germaine de Randamie venceu Larissa Pacheco por nocaute técnico aos 2min2s do R2