
Mauro Ayres ensina em sua escola, em Ipanema. Foto: Divulgação/GRACIEMAG
O professor e campeão Mauro Ayres decidiu experimentar o Jiu-Jitsu pela primeira vez há 30 anos, naquela aulinha de Roberto Atalla, o Risada. Nunca mais parou, e hoje – três décadas depois, que passaram voando – sua academia é referência em Ipanema.
A equipe GRACIEMAG foi colher com o faixa-preta suas lições favoritas.
GRACIEMAG: Como o Jiu-Jitsu ensina você a viver melhor e criar sua família, Mauro?
MAURO AYRES: Gosto de recordar sempre uma velha máxima, que vale para o Jiu-Jitsu e vale para a vida fora da academia. É o mantra de que não existe o amanhã sem o hoje. Isto é, devemos sempre mirar o futuro, mas sem esquecer de viver o presente. Parece um mantra simples, mas não é. Quantas vezes alguém não perdeu a luta ou o campeonato por estar pensando em algo que não fosse o presente ali, o que importava ali, na hora H? Hoje estamos vivendo na correria, pensando no amanhã, muitas vezes vivendo por antecipação, pensando em problemas que ainda não existem. E isso pode ser uma grande arapuca, pois deixamos de viver o momento.
Como o Jiu-Jitsu ajuda você a lidar com imprevistos, problemas e obstáculos na vida financeira, por exemplo?
Adaptar-se é o segredo em qualquer campo da vida, em especial no Jiu-Jitsu, e quem não entende isso, demora muito mais para aprender, para evoluir. Um exemplo: nem todo mundo vai conseguir emplacar um berimbolo ou uma guarda mais ágil no seu jogo, principalmente se for das categorias mais pesadas, ou começar a treinar com mais idade. Sem problemas, porque o camarada pode ter mais êxito se adaptar o Jiu-Jitsu utilizando a pressão do próprio peso no oponente. Essa capacidade de adaptação já me ajudou muito em diferentes fases da minha carreira. Por exemplo, quando mudei para outro país, com uma outra cultura, e precisei de jogo de cintura e sabedoria para a resolução de problemas variados. Você usa essa adaptabilidade o tempo todo na vida.
Quando o perrengue bate à porta, como o aluno deve reagir?
O segredo é pensar que você está por baixo, nos cem-quilos, contra um adversário monstruoso. Primeiro é preciso sobreviver ao ataque, respirar, repor e, aí sim, reposicionar e engatar o contra-ataque. Metaforicamente ou não, claro.
Você é um defensor dos treinos ao ar livre. Como o hábito de rolar ou treinar nas praias muda a vida dos praticantes?
Ao ar livre as oportunidades são inúmeras, pois em qualquer cidade há praças, parques, quintais de amigos, deques. Muitos podem fazer só o treino de Jiu-Jitsu soltinho e relaxado ao ar livre, aproveitando a natureza e os benefícios disso como um lazer. Ou, ainda, pode-se potencializar os treinos tirando o kimono e adotando os treinos físicos em comunhão com a natureza. Por exemplo, estudando a Ginástica Natural ou realizando uma preparação física. Eu recomendo, afinal é energia pura e bem-estar na veia. Na verdade esse estímulo entrou na minha vida em 2008, quando iniciei a preparação física específica para lutar, com meus irmãos de treino Alexandre Pulga e Henrique Gama Filho, na Nova Geração. Nessa época eles estavam se preparando para lutar MMA. O treino era muito forte, comandado pelo estudioso preparador físico Roger de Moraes na praia do Leblon; coincidência ou não, naquele ano fui campeão brasileiro de Jiu-Jitsu.
Sua escola fica hoje num espaço que já foi da família Gracie, no bairro de Ipanema. Como é a energia da escola?
Pois é, a escola fica num andar que já teve até lendas do esporte quando ainda estavam surgindo. Por exemplo, a Kyra Gracie, embaixadora do Jiu-Jitsu feminino, treinava por ali, logo na sala ao lado. Creio que fazer nosso dojo ter sua própria identidade e não ser uma continuação de academias do passado foi o maior desafio. Construímos tudo diferente, como está hoje, e foi um trabalho minucioso e que deu resultado. O dojo é reflexo do mestre, mas também dos alunos que possuem uma filosofia e um pensamento parecidos. E sinto que o andar inteiro tem um astral excelente. De um lado fica a Associação Brasileira de Yoga, no outro um estúdio de pilates, e a gente fica ali também, a contribuir para que os alunos busquem o equilíbrio por meio do esporte. Estamos sempre buscando levar uma energia muito boa para o bairro, e para a cidade do Rio.