Neste domingo, todos os brasileiros dirigem-se às urnas para cumprirem seu dever cívico e votarem para eleger o Presidente da República pelos próximos quatro anos. Quem diria que, em época de intenso exercício republicano, os brasileiros ficariam felizes com a manutenção de uma monarquia? Pelo menos na categoria peso pena do UFC, o Brasil ainda tem um rei soberano: José Aldo Júnior.
No UFC 179, realizado nesta madrugada pré-eleição, o monarca brasileiro repeliu a mais perigosa tentativa de golpe ao seu reinado e travou uma batalha épica contra o aspirante ao trono Chad Mendes.
O clima no Maracanãzinho era de tensão antes do início da luta principal. O card começara com a derrota do brasileiro Fabrício Camões, finalizado com uma chave “kimura”, ironicamente na semana em que se comemorou a luta entre Hélio Gracie e Kimura naquele mesmo local. O desempenho dos demais brasileiros foi irregular, acumulando mais derrotas do que vitórias. Instaurou-se um sentimento de mau-agouro. Falava-se em “Maracanazzo” no UFC, com a possibilidade do Brasil perder em casa seu único título restante na organização.
Com os atletas no octógono, a peleja começou em ritmo frenético. Mendes e Aldo apresentavam-se focados e em forma. Eis que, após alguns minutos, o susto foi geral quando Chad acertou um upper e o campeão foi ao chão.
Era o momento da decisão. O momento que destrona os fracos e consagra os heróis. Aldo não seria sobrepujado, não perderia em pleno Maraca. O manauara levantou-se rapidamente e partiu para cima do americano. Estava decidido a não ceder sequer aquele round. O pequeno Aldo virou um gigante. Agressivo, rápido, preciso, passou a acertar poderosos socos que abalaram Mendes. Nos últimos segundos, desferiu um duro direto que praticamente nocauteou Chad. Antes que pudesse concluir a luta, soou o gongo e o desafiante foi salvo.
O “quase nocaute” poderia ter afetado a capacidade do desafiante ou frustrado o campeão. Nada disso aconteceu. Como o embate mitológico entre Aquiles e Heitor (personagens do clássico Odisséia), esse era o tipo de batalha que consagra ambos os lados. Aldo aplicou mais alguns knockdowns e esteve perto de encerrar o combate no terceiro round. Contudo, Mendes se recuperava de maneira sobre-humana e voltava no round seguinte como se fosse o primeiro.
Há cerca de um ano, escrevi para a GRACIEMAG um artigo no qual dizia que José Aldo tinha tudo para alcançar o misto ideal entre monge e matador para manter-se campeão por muito tempo, sem abrir mão do show. E foi exatamente isso o que ele fez. Soube administrar a luta quando precisou, conteve o ímpeto do desafiante sem deixar de aplicar jabs, cruzados e chutes arrasadores. Chegou até a arriscar duas joelhadas voadoras, para delírio da multidão.
Durante cinco rounds de verdadeira guerra, o suspense durou até o último segundo. Ao final, José Aldo Júnior foi declarado campeão. Mais do que um campeão, um soberano que conquistou seu reino no campo de batalha. o Maracanãzinho era seu castelo, a platéia era seus súditos e o cinturão do UFC era sua coroa
Ainda no octógono, Aldo parafraseou Romário – outro baixinho que já havia sido chamado de Rei do Rio – e disse que sua corte estava completa: tinha o rei (Aldo), o príncipe (Mendes) e o bobo da Corte, referindo-se ao falastrão Conor McGregor.
Assim sendo, proclamemos todos, como faziam nas coroações medievais: vida longa ao Rei Aldo!