Existe uma hora certa para o ídolo pendurar as luvas de vez? Neste semestre, o assunto na comunidade das lutas girou em torno da aposentadoria dos grandes ídolos. Afinal, luvas de respeito foram penduradas, como as de Floyd Mayweather Jr, de 38 anos, e Rodrigo Minotauro, de 39. Ainda, houve a punição máxima a Nick Diaz, 32 anos, que pegou cinco anos de afastamento do MMA por uso reincidente de maconha e mais 150 mil dólares de multa, o que pode acelerar o fim da carreira do encrenqueiro.
Seja qual for a motivação individual de cada astro, certos aspectos coincidem. A fisiologia, a motivação psicológica, os resultados e o barulho dos fãs são sempre itens que influem na decisão do lutador. O mito do boxe Mayweather, por exemplo, anunciou sua saída de cena na exata noite em que igualou o recorde histórico de Rocky Marciano (1923–1969), de 49 vitórias em 49 lutas, sem nenhuma derrota ou empate (Rocky só teve mais nocautes: 43 contra 26.)
“Eu não quero ser lembrado como um campeão que foi batido”, dizia a clássica frase de Marciano, repetida por Floyd ainda no ringue em Las Vegas, após vencer Andre Berto por decisão unânime, no último dia 12 de setembro. Se a invencibilidade é para pouquíssimos, a aposentadoria há de chegar para todos. “O atleta é um ser que morre duas vezes. A primeira, quando para de jogar”, ensinou o craque de futebol Paulo Roberto Falcão. O crucial, portanto, é o planejamento, para o lutador sair de cena convicto, e não sentir arrependimento e aquela sensação de vazio depois.
Autor do livro “O desafio de ser diferente” e especialista em marketing esportivo, Idel Halfen compara a vida de um esportista com a de um produto de sucesso – guardando todas as devidas peculiaridades e pedindo licença ao aspecto humano de cada atleta. Contudo, como uma marca de sucesso, o competidor também vai conhecer quatro fases principais: o início, o crescimento, a maturidade e o declínio.
“Sob o prisma exclusivo do marketing, o lutador que se aposenta invicto causa o mesmo impacto que, por exemplo, se a Alpargatas parasse de produzir as sandálias Havaianas ou se a Unilever fizesse o mesmo com sabão Omo, produtos líderes de mercado com ótimas margens de lucro. Essas empresas, até encontrarem produtos substitutos à altura, vão sofrer para recompor seus resultados. Assim como o boxe mundial será impactado com a saída de Mayweather, que decidiu pendurar as luvas antes do declínio, ou seja, quando ainda possui boa participação de mercado”, exemplica Halfen.
Segundo o especialista, é justamente o lado humano que faz a decisão do campeão mundial ser perfeitamente compreensível. “Quando o atleta chega a um estágio da vida em que conviver com dores diárias, com a pressão, cobranças e longe do convívio de lazer com amigos e famílias, a carreira passa a ter um custo muito alto – e impossível de ser quantificado monetariamente. Por isso, muitas vezes a decisão é tomada de forma instintiva, e sob risco de vir a ser revogada mais tarde”, repara o especialista.
Para que o planejamento seja bem feito, segundo Idel, há uma condição que deve ser sempre perseguida pelo lutador: a de se ter o controle da situação, ou seja, a decisão deve caber ao atleta, e não a dirigentes, público e outros agentes externos:
“O atleta não deve deixar que outros tomem esta decisão tão importante em seu lugar. Afinal, sair de cena, sem que seja uma decisão própria, pode ser equivalente à figura do ‘campeão batido’ citada pelo Rocky Marciano”, conclui.
Especificamente no meio do Jiu-Jitsu, o craque e já veterano Rubens Cobrinha deu sua fórmula, num artigo de capa de recente edição de GRACIEMAG:
“Aconselho o atleta a competir o máximo que puder até ele sinta que chegou a hora de se aposentar das competições e abrir a sua própria academia. Assim, o professor de Jiu-Jitsu terá mais tempo para se dedicar aos alunos, em vez de ter de cuidar da academia, da família e dos duros treinamentos ao mesmo tempo”, sugere o astro da Alliance.
E para você, qual é a hora de um lutador pendurar o kimono das competições?