Nos anos 1990, os campeonatos de Jiu-Jitsu mudaram de patamar.
O Pan de Jiu-Jitsu da IBJJF, por exemplo, nasceu em 1994, mas foi em 1996 que virou História com H grande, e quando a imprensa foi atrás para fotografar, registrar e contar o que se passou.
Foram batalhas memoráveis, entre alguns dos lutadores mais cascas-grossas da época. Até nas divisões de faixas coloridas, já surgiam nomes que deixariam sua marca no Jiu-Jitsu.
Como exemplo, lá estavam Robson Moura e Vitor Shaolin, na faixa-marrom, quando ganharam a divisão de plumas e penas, respectivamente. Outro professor de renome é Amal Easton, hoje líder da Easton BJJ, no Colorado, que na época era um faixa-azul de 26 anos.
“Lembro que a pesagem demorou seis horas, foi brutal. Esperei desde 8 da manhã, já que não havia o horário certo de entrar. Sentei lá e esperei o dia todo até chamarem o meu nome”, conta Amal.
“Minha primeira luta foi no fim da tarde apenas, e a última lá para a meia-noite, contra Rolles Gracie Jr. Acho que finalizei umas três lutas antes da final. Achei que a final seria no dia seguinte, já estava saindo quando encontrei o Carlinhos [Carlos Gracie Jr.] e ele me perguntou se eu não ia lutar a final. Pus meu kimono de novo e voltei para lutar.
“Acho que ele estava com 17 ou 18 anos na época e cheguei a treinar com ele antes, em Florianópolis, quando visitei a academia do Rilion Gracie. Todo mundo que eu considerava como meus professores estava torcendo para o Rolles. Eu tinha apenas o Carlos Machado do meu lado. Nunca vou me esquecer dele por aquele dia.
“Foi uma batalha acirrada, com o Rolles tendo a vantagem o tempo todo. Fiquei preso por baixo, na meia-guarda, e ele passou ou quase passou a luta toda. Mas fiquei feliz com o combate”, recorda o professor.
Marcio Feitosa, recém promovido faixa-preta em 1996, teve a chance de dar um troco particular na divisão de pesos leves. Em 1995, Feitosa havia sido derrotado por Bob Bass, aluno de Joe Moreira, e esta tinha sido sua primeira derrota desde a faixa-amarela. Em 1996, Marcinho conseguiu fazer do seu jeito, como ele conta:
“As chaves estavam duras. Minha luta com Bass foi bem no início e consegui lutar com o que ele tinha de melhor. Depois disso, enfrentei Renato Barreto na final. Foi uma luta complicada, como sempre. Ele é um guardeiro muito flexível. No final, tudo correu bem e eu fiquei em primeiro lugar”.
Outro ótimo duelo ocorrido em 1996, em Los Angeles, foi na final do meio-médio faixa-preta, entre Roberto Roleta e Saulo Ribeiro.
Essa foi a segunda de três memoráveis batalhas entre eles. Desta vez, Roleta ficou por cima na maior parte do tempo e saiu vitorioso na decisão do árbitro Joe Moreira.
Porém, o grande nome do evento foi Rigan Machado. Hoje treinador de muitas estrelas de Hollywood, Rigan estava começando sua vida nos EUA. Ele nos conta como fez para chegar ao topo do absoluto faixa-preta, com destaque para a batalha contra Roleta:
“Eu queria ir para o Brasil competir no Mundial, mas estava no meio do processo de imigração e não pude deixar os EUA. O Carlinhos (Gracie Jr) disse para eu não me preocupar, porque teríamos alguns nomes de peso no Pan. Estava trabalhando muito na época e tive apenas duas semanas para treinar, por isso optei em atuar com muita estratégia. Lembro bem da luta com o Roleta. Era o oponente que mais me preocupava. Ele era conhecido por ter uma guarda perigosa, e se eu deixasse ele fazer as pegadas da guarda-aranha eu estaria enrascado. Mas reparei que ele tinha uma brecha que eu poderia explorar. Decidi misturar um pouco de wrestling no início do combate, e com isso consegui arrancar três pontos ao chegar do lado. Depois fui trabalhando no erro dele para garantir a vitória. Gosto de competir assim, com menos força e mais estratégia”, rememora Rigan.
Depois de vencer Roleta, Machado ainda tinha a final, contra Eduardo “Jamelão” Conceição:
“Contra o Jamelão foi mais na pressão. Pressionei para passar e montar, mas não tive tempo de finalizar.”
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