Em maio de 2023, a bandeira Gracie foi fincada metaforicamente no topo do Monte Everest.
A faixa-marrom carioca Cesalina Gracie, neta de grande mestre Carlos, foi a responsável pela façanha inóspita para qualquer ser humano. Mas Cesalina chocou o mundo duplamente: não tinha experiência alguma em escaladas, e de quebra sofria de certo medo de altura.
Mas a Gracie tinha, claro, um grande trunfo para acompanhá-la: décadas de estudo e prática de Jiu-Jitsu, técnicas de respiração e um destemor fora do comum.
A instrutora de Jiu-Jitsu encarou o pico de 8.848 metros e uns quebrados no Himalaia com apenas sete semanas de estudos e treinamentos em montanhismo, trabalhando corpo e mente por três a quatro horas diárias.
Primeiro, a filha do mestre Pierino De Angelis entrou em contato com outros exploradores com experiência no Everest. Ainda em total consonância com o que aprende nos tatames, ela consultou um faixa-preta em montanhismo, o mestre especialista em resistência física Michael McCastle.
“Adotei desde o primeiro dia uma mentalidade de faixa-branca”, contou Cesalina, em entrevista ao portal ESPN. “Isto é, procurei listar com honestidade, como se minha vida dependesse daquilo, onde estavam meus pontos fortes e fracos. Em qualquer ambiente, seja no tatame, é bom a gente ter um mestre. É crucial contar com alguém nos guiando e observando. No Everest não seria diferente”.
Cesalina encarou simulações de elevada altitude, treinos com carga pesada e circuitos em ar rarefeito, num camp em Portland.
Durante a subida do Everest, a Gracie notou muita gente no sentido contrário, a desistir no meio do caminho. Ali ficou claro para ela a importância do Jiu-Jitsu. Desistir, como seus avôs, tios e primos ensinavam, não era uma opção.
“Atribuo ao Jiu-Jitsu 100% da minha capacidade de tomar decisão sob estresse, de analisar os quadros com frieza, de decidir seguir em frente, de me proteger e salvar da melhor forma possível. Sem o Jiu-Jitsu, eu não teria nem 1% de toda essa força mental e habilidade de reação sob pressão que descobri lá em cima. Se eu entrasse em pânico, não conseguiria seguir em frente. É uma arte que ainda por cima nos dá uma capacidade sureral de ignorar os fatores externos que podem nos fazer desistir.”
Após 50 dias marcados por duas avalanches, flertes com a morte e pouco oxigênio, Cesalina se tornou a oitava pessoa nascida no Brasil a chegar ao topo do planeta. Ao curtir a vista por 40 minutos, tinha uma certeza: ela agora era outra pessoa. E tudo tinha valido a pena.