Na história recente dos Mundiais de Jiu-Jitsu, poucos campeões absolutos na faixa-marrom não se tornaram superastros do esporte.
Na galeria de ex-reis da marrom, talvez a porta de entrada mais árdua para a faixa-preta, estão Daniel Gracie (1996), Claudio Moreno (1997), Murilo Rupp (1998), Aurélio Fernandes (1999), Marcio Pé de Pano (2000), Alex Paes (2001), Roger Gracie (2002), Ronaldo Jacaré (2003), André Galvão (2004), Vinny Magalhães (2005), Antonio Braga Neto (2006), Otavio Sousa (2007), Rodolfo Vieira (2008), Léo Nogueira (2009), Marcus Bochecha (2010) e Alexander Trans (2011).
Este ano, o gande campeão foi o superpesado João Gabriel Rocha (Soul Fighters), 20 anos, que graças a sua experência na marrom, venceu o peso e o absoluto até com certa facilidade, na visão de seu professor, Leandro Escobar, o Tatu. O segredo, para o professor e o atleta, foi a consistência na academia e não dar bola para a preguiça e outras desculpas para faltar o treino.
“O João treina Jiu-Jitsu desde os 4 anos de idade, e quase não falta. Na Soul Fighters, no Rio, temos treino para a equipe de competição todos os dias, e às vezes ele faz dois treino por dia, mais a preparação”, disse Leandro.“O pai dele sempre investiu muito na carreira dele. João já treinou judô no Instituto Reação, do Flávio Canto, fez aulas de wrestling com a seleção brasileira, e sempre treinou mais que os garotos da idade dele”.
No último Mundial em Long Beach, em junho, João derrotou duas feras nas finais: Felipe “Preguiça” Pena, no absoluto, e Luke Costello no peso, ambos da Gracie Barra.
“O interessante é que o João só se motiva mais a cada vez que se vê no alto do pódio. Ele mira sempre o topo, e para isso sempre quer treinar mais e mais, compreende que sua carreira nem começou ainda. E ele cresce muito nas competições. Cada vez que o vejo lutar, sinto que ele está melhor e mais maduro como competidor. É um processo de evolução, ele vai chegar à faixa-preta arrebentando no nível dos tops. Seu ponto forte é ser incansável, não só por ser jovem, mais por ser muito dedicado. Assim como no Pan e no Brasileiro, ele se preparou muito bem com o Ítalo na parte física, aí sobressaiu com mais facilidade”.
Como todo bom professor, Tatu enxerga falhas no pupilo. “Seu maior defeito é a falta de concentração. Tenho de estar sempre em cima cobrando seriedade, chamando atenção para alguns detalhes”.
De olho na galeria de supercampeões da marrom, dá para afirmar que vencer o absoluto marrom é hoje tão ou mais difícil que uma medalha de ouro na faixa-preta no Mundial?
Para Leandro Tatu, a faixa-preta ainda é um nível acima. “Acho que o nível de dificuldade não é o mesmo, apesar de ser um feito e tanto. Principalmente no caso do João, que estava sobrando na faixa-marrom há um tempo. Basta ver que as lutas que ele perdeu nessa divisão foram sempre duvidosas, na minha opinião, ou seja, ele estava um nível acima da ampla maioria de competidores. Mas agora chegou a hora, e no fim deste ano vamos testá-lo, pois ele vai disputar aqui no Rio o GP dos Pesos Pesados da Copa Pódio, só com os feras da faixa-preta, como Rodolfo, Bochecha e outros”, encerra o professor.