Muitos podem até pensar que Jiu-Jitsu e surfe são esportes que não têm nenhuma relação. Entretanto, é interessante o fato de muitos praticantes da arte suave relaxarem, entre as sessões de treinos, nas ondas. Temos aí exemplos como Rickson, Relson e Royler Gracie, entre muitos outros. O contrário também acontece. O maior surfista de todos os tempos, Kelly Slater, é admirador confesso da arte suave, e não podemos esquecer do super campeão de longboard Joel Tudor, que arrebenta nos tatames e participou da última edição do ADCC.
Mas o que isso tem a ver com José Olímpio, mais conhecido pela galera que veste kimono como Zé Radiola? Mestre de feras como Bráulio Estima, Zé foi surfista profissional, mas se rendeu à arte suave e hoje comanda um exército de campeões em Pernambuco, na Gracie Barra PE.
“Conheci o Jiu-Jitsu através de um amigo meu, em São Paulo. Era surfista profissional, mas, sempre gostei de lutas e me identifiquei. Passei a praticar e, como sempre viajava ao Rio para as competições de surfe e todo mundo treinava , deu no que deu”, conta o faixa-preta.
Entretanto, criar a estrutura necessária e o conhecimento para construir uma grande equipe, formada por campeões e praticantes que também adotaram a arte suave como estilo de vida, não foi um trabalho fácil.
“Em Recife tive um pouco de dificuldade, porque não havia aqui o Jiu-Jitsu que estava procurando. Foi quando tive a oportunidade de conhecer o mestre Carlinhos (Gracie Jr.) num campeonato e fui muito bem recebido. Depois disso comecei a ir ao Rio de Janeiro, na Gracie Barra. Era praticamente bolsista e sou muito grato por isso”, diz.
“Tive essa chance com o Carlinhos e me abracei a todos os conhecimentos que ele passou. Fui pondo tudo em prática”, completa.
Daí para frente, Zé Radiola passou a ir ao Rio de Janeiro a cada dois meses, para aperfeiçoar a parte técnica. “Carlinhos também mandava para Pernambuco os melhores faixas-pretas para fazer seminários. Feras como o Márcio Feitosa e o Flávio Cachorrinho, entre outros. Eles passavam posições, davam uma força enorme para crescermos”, explica.
Formando uma família – A academia foi inaugurada no final de 1996, em Jaboatão dos Guararapes, que fica ao lado de Recife. Uma das metas da arte suave é proporcionar qualidade de vida ao praticante comum. Mas não há como negar a importância de heróis dentro do time. Zé Radiola teve um cuidado especial com esses, que podemos chamar de competidores.
“Moramos num país em que é difícil encontrar empresas que invistam em modalidades que não são olímpicas. O conhecimento que tive através do surfe me ajudou muito nessa política. Corri atrás de patrocínio para os meus atletas e, através disso, o Bráulio Estima lutou pela primeira vez no Pan. O professor tem que ter a visão lá na frente. Ele não pode só pensar no presente. Muitos têm talento fora do comum, mas não tem condições financeiras. Tive que me concentrar como professor e não ter a vaidade de pensar só em mim”, lembra ele.
“Bráulio treinava judô e veio fazer Jiu-Jitsu com a finalidade de melhorar o chão quando eu ainda era faixa-roxa. Se identificou muito com o esporte e comigo. Começamos a fazer um bom trabalho, ele passou a competir e a ter resultados. Depois a coisa foi crescendo, porque aqui é como se fosse uma família, um sempre ajuda ao outro. Toda vez que íamos ao Rio competir, voltávamos com alguma medalhinha. No primeiro ano foram dois, no segundo quatro e assim por diante. Começaram a aparecer resultados e os outros foram se inspirando. É aquele efeito dominó.”
De Pernambuco para o mundo – O treinador também faz um ótimo trabalho na expansão da arte suave pelo mundo. Através de seminários na Europa, abriu portas para o Jiu-Jitsu em vários países do continente.
Entre os alunos que estão por lá, Bráulio Estima é o responsável pela Gracie Barra Birmingham, na Inglaterra. Outro pupilo de Zé no Velho Continente é Max Carvalho, na Hungria. Juntos, organizaram em 2009 o 5º Open Brazilian Jiu-Jitsu Hungary, que teve a participação de mais de oito países da Europa e 250 atletas.
Aos 45 anos, Zé Radiola comanda um time com diversos faixas-pretas. Além dos já citados Bráulio e Max, feras como Victor Estima, Otávio Sousa e o faixa-marrom Lucas Rocha, entre outros, brilham nos dojôs. Mas isso é apenas uma pequena fatia do que o Jiu-Jitsu proporcionou na sua vida.
“Hoje tenho respeito da minha família e dos meus amigos. O Jiu-Jitsu me mudou muito e as pessoas têm que acreditar nisso. A Gracie Barra não é só uma academia, é uma escola. E os que estão ali têm uma segurança especial, cria-se um alicerce para o resto da vida. Agradeço muito ao mestre Carlinhos”, finaliza.